Alta recorde do preço do açúcar 

O preço do açúcar no Brasil e no mundo está batendo recordes. Em 21/01/2010, o indicador Cepea para a saca de 50 quilos fechou o dia valendo R$ 71,46. Trata-se da maior cotação desse produto desde abril de 1997. Na mesma data, o preço do fechamento do pregão na bolsa de New York ficou em US$ 0,29 por libra peso. No mercado internacional, essa commodity registra as maiores cotações desde 1981.
 
São dois os principais fatores responsáveis pela disparada do preço do açúcar, importante matéria-prima do setor de balas. Desde 2008, vem ocorrendo a quebra da safra da Índia, segundo maior produtor mundial de açúcar, abaixo do Brasil. Na Índia, a produção caiu de 28,6 milhões de toneladas na safra 2007/2008, para 16 milhões no ciclo seguinte. Devido à quebra da sua produção, a Índia passou de grande exportador a importador, quando adquiriu 4 milhões de toneladas do Brasil, do total importado de 6 milhões de toneladas em 2009. Ou seja, as exportações brasileiras para a Índia registram aumento de quase 12.000% , na comparação com o ano anterior.

Outro motivo que acarreta a alta dos preços é o excesso de chuvas que retarda a colheita na região Centro-Sul do país, onde se concentra 90 % da produção nacional. Estima-se que 50 milhões de toneladas de cana ainda estão em pé, esperando serem colhidas (isso é o equivalente a 2,7 milhões de toneladas de açúcar que deixaram de ser comercializadas). Além disso, o excesso de água diminui a concentração de sacarose nos pés e reduz a produtividade da safra.
De acordo com a Única – União da Indústria de Cana de Açúcar, embora a safra tenha rendido 540 milhões de toneladas em 2009, contra 505 milhões em 2008, a produção final de açúcar e álcool foi menor. Essas duas situações fazem com que haja a escassez da matéria-prima no mercado e o avanço do consumo. E conforme a lei da oferta e da procura, a falta de disponibilidade de açúcar acaba alavancando o seu preço, ocasionando um processo especulativo.

Mesmo diante do cenário pessimista, tanto a Única quanto o Ministério da Agricultura descartam o risco de desabastecimento de açúcar no mercado interno. Há uma expectativa de crescimento de 6,6% na moagem da cana na safra de 2010, que começa no início deste ano. Do total da produção, em torno de 75% serão exportados e 25% ficarão para o abastecimento interno. No entanto, há algumas ressalvas. Deve-se notar que, devido às chuvas, haverá uma perda de qualidade no percentual a ser absorvido no mercado interno, com uma quebra na produtividade da tonelada de cana moída por quilo de açúcar produzido (o chamado ATR). Ou seja, embora a produção de açúcar cresça 8,5% sobre a safra passada, ocorrerá uma queda de 7,2% devido à baixa qualidade da cana moída.    

As exportações de açúcar do Centro-Sul devem crescer 4,5 milhões de toneladas em 2009. Entretanto, a produção ira aumentar apenas, 2,3 milhões. Isso mostra que grande parte do volume que será exportado se origina dos estoques disponíveis antes da safra, ou seja, da produção anterior que foi estocada, também chamada de estoque de passagem. Na verdade, as exportações aumentaram significativamente (23%), com um adicional de mais de 2 milhões de toneladas, que foram atendidas pelos estoques da safra passada.

Previsão de preço estável em 2011

O Banco Barclay Capital, de Londres, estima que os preços do açúcar, que registraram aumento de 130% no mercado internacional em 2009,  devem continuar em ascensão até o terceiro trimestre de 2010. Isso porque o valor dessa commodity estará mais ligado à produção da Índia do que à recuperação econômica global, que está se ajustando depois de um período de crise.

A produção indiana de açúcar nos três primeiros meses da safra de 2010 será 8,3% menor do que em igual intervalo do ciclo passado, o que torna difícil atingir a meta de 16 milhões de toneladas  previstas para este ano. Por isso, o governo indiano já prorrogou, até o fim de 2010, a suspensão da tarifa de importação de açúcar refinado, diante da expectativa que a Índia terá de importar entre 4 milhões e 6 milhões de toneladas nas  safras de 2010/2011. E como a colheita no Brasil ocorre no início do ano, o Banco Barclay avalia que não haverá açúcar suficiente no mercado para suprir a demanda global nos próximos 8 meses.

Em contrapartida, tudo indica que o alto preço do açúcar irá estimular os produtores indianos a plantar mais cana-de-açúcar na Índia. Caso a safra deste ano não quebre por fatores climáticos, deverá diminuir o movimento especulativo com a redução dos preços no mercado internacional.  Prakash Naiknavare, diretor executivo da Maharashtra State Cooperative Sugar Factories Federation Ltd. , afirma que a alta causada pelo déficit poderá acabar dentro de menos de um ano. Segundo ele, a produção indiana de açúcar deverá saltar até 52% (25 milhões de toneladas) no ano-safra 2010/2011, em relação aos 16,5 milhões do período 2009/2010.