Gordura deixa de ser a única vilã nas dietas


Uma nova pesquisa, que reúne resultados de 21 estudos, mostra que os cientistas não encontraram uma evidência mais clara que de o consumo de gordura saturada expõe o organismo a maiores riscos de derrame ou males do coração.  

A gordura saturada encontrada nas carnes vermelhas e laticínios têm má reputação, pois há evidências de que pode elevar os níveis sanguíneos do mau colesterol (LDL). Um alto nível de LDL, por sua vez, é um fator de risco para doenças cardíacas e derrame cerebral. Por causa disso, geralmente os especialistas aconselham as pessoas a limitarem o consumo de carne gordurosa, manteiga, leite e laticínios integrais (não desnatados).

A descoberta de que a gordura saturada não é a vilã que todos imaginam ser, publicada no American Journal of Clinical Nutrition (Jornal Americano de Nutrição Clínica), surge como ótima notícia para os apreciadores da boa mesa. Mas a The Americam Heart Association – AHA (Associação Americana do Coração) recomenda cautela contra um “exagero na interpretação” desses resultados. A AHA sugere que os adultos não consumam mais de 7% de gordura em suas calorias diárias. Para quem se alimenta com 2.000 calorias por dia, isso significa menos de 16 gramas de gordura saturada por dia.

Para comprovar se a gordura saturada está ou não ligada diretamente aos males do coração e derrames, pesquisadores liderados pelo Dr. Ronald M. Krauss, do Children’s Hospital Oakland Research Center (Hospital de Crianças do Centro de Pesquisas de Oakland), na Califórnia (EUA), reuniram dados de 21 estudos que incluíam um total de quase 348 mil adultos analisados durante certo tempo. Participantes saudáveis no início dos testes foram pesquisados sobre seus hábitos alimentares e depois monitorados por um período que variou de 5 a 23 anos. Durante esse tempo, 11 mil desenvolveram algum tipo de doença cardíaca ou sofreram um derrame.

Baseados em seus estudos, Dr. Krauss e seus colegas descobriram que não havia diferença no risco de doença cardíaca e derrame entre as pessoas com o mais baixo ou com o mais alto consumo de gordura saturada. Porém a pesquisa não pôde demonstrar se o consumo de gordura saturada acarreta efeitos diversos em grupos de diferentes idades. Além disso, também não pôde avaliar os resultados de se substituir a gordura saturada pela gordura poliinsaturada (encontrada em óleos vegetais e peixes) ou por carboidratos. Isso porque estudos feitos por outros pesquisadores têm mostrado que os riscos de se desenvolver uma doença cardíaca podem ser atenuados com o consumo de gorduras poliinsaturadas.

“Ninguém está dizendo que o consumo moderado de gordura saturada irá prejudicar alguém. Por isso, as pessoas devem apreciar suas comidas”, afirma o dr. Robert H. Eckel, médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado, em Denver (EUA). Mas ele observa que diversos estudos mostram que dietas com maior ingestão de gorduras saturadas podem elevar o nível de colesterol e que esta nova pesquisa do Children’s Hospital Oakland Research Center não irá mudar a recomendação que seja mantido o controle sobre o consumo de gordura saturada.

Para ele, o mais importante é que o enfoque sobre as dietas e a saúde do coração está deixando de se basear apenas em um nutriente, como a gordura saturada, e se passa a se basear em um “padrão de dietas”. A dieta ocidental, com a ingestão de carnes vermelhas, açúcar e carboidratos expõe a maiores riscos de doenças cardíacas. Em contrapartida, a dieta mediterrânea – com o maior consumo de frutas, legumes, peixe e óleo vegetal – pode ajudar a baixar o risco de doenças cardíacas e derrame. “É esse tipo de padrão alimentar que as pessoas deveriam se esforçar para adotar”, assegura Eckel.

Matéria original em inglês no link: http://www.reuters.com/assets/print?aid=USTRE61341020100204